terça-feira, 25 de abril de 2017

Vinte e Cinco de Abril. Sempre.

Como tinha dito no final de Dezembro passado, fui.
Não sei quando volto, ou mesmo se volto; não sou muito esquisito, podem ser €€, $$ ou mesmo ££, mas sem guita reutilizável no resto do Mundo, não é fácil continuar a trabalhar em Angola. Nem mesmo para Angola, ou por Angola.

África é um espanto, as pessoas, o clima, as cores, os sítios. Os países africanos, maioritariamente desenhados a régua e esquadro pelos colonizadores do século XIX, consolidados por interesses de independentistas sustentados pelos colonizadores a seguir na fila e raramente preocupados com as identidades dos povos vizinhos das tribos dos líderes de ocasião, são uma treta. Angola não é excepção, com a devida vénia a todos os angolanos de todos os povos e de todos os partidos sem excepção que querem fazer deste conjunto de pessoas (relativamente pouco) unidas pela língua portuguesa, uma Nação, um Estado de Direito, um País de pleno direito. Oxalá consigam, verdade seja dita, as suas vozes vão-se fazendo ouvir.

Ontem os portugueses, intercalados de holandeses, franceses e alemães; depois os cubanos e os russos, mais tarde os chineses, os americanos à mistura.  O povo angolano nunca se conseguiu libertar das marcas impostas pelos colonizadores, entretém-se com uns "ódios de estimação" alardeados pela propaganda de uso interno, e nunca mais arrebita com a lista de prioridades governamentais a adiar a educação para as calendas gregas. Assim não dará nada de jeito, nunca. Pode ser de propósito, nem é preciso ir à Coreia do Norte, já há muitos anos o nosso "Doutor Oliveira" determinou como estratégia a criação de elites e que o jornal seria suficiente alimento para o povo (e como todo o alimento, deveria ser em controlado, para não causar problemas à "saúde pública"). Pode ser por distracção, pode ser por qualquer outro motivo, mas o resultado será o mesmo: sonegar o acesso à educação mata uma cultura, cria uma maioria de analfabetos sem acesso a nada, que vão para onde lhes disserem, dóceis, desempregados, acéfalos, a viver de expedientes que não fazem honra à sua inteligência nem às suas origens.

Deve ser efeito das comemorações da Revolução dos Cravos que faz hoje 43 anos que fiquei mais céptico em relação a Angola,  mesmo com eleições marcadas e uma expectativa de evolução "na continuidade". A ideia em si é gira, mas não sei se funciona. Provem-no, Angolanos!  Em Portugal tivémos um Presidnte Professor Marcelo que apregoou essa ideia, acabou deposto em 25 de Abril de 1974 e morreu exilado no Brasil.

Hoje, quarenta e três anos depois, uma eternidade, em Portugal temos uma Geringonça Governativa e felizmente um outro Professor Marcelo Presidente a "anos luz" do anterior, uma democracia que, com todos os defeitos que possa ter, vai funcionando: até tem poder local, orçamento participativo nacional, IRS e uma justiça que geralmente funciona, polícias que ajudam a população e não vivem de gasosas. Um espanto.

Angola? Não sei quando volto, ou mesmo se volto; de momento "estou noutra", embora mantendo os contactos, as ligações, acompanhando as pequenas coisas do dia-a-dia do pequeno mundo que também foi o meu até há tão pouco tempo. Quanto a estes escritos angolanos, salvo alguma memória solta que esteja mesmo a pedir publicação, irão perder a minha atenção frequente e, naturalmente a actualidade. Portanto, fui escrevinhar para outro lado. Para os que teimam em ficar, os meus melhores votos de boa continuação.

Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.

Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.

Mesmo na noite mais triste
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.

Poema de  Manuel Alegre, recordado sempre como o excerto que  foi cantado por Adriano Correia de Oliveira.

domingo, 11 de dezembro de 2016

Trivia Luandense

Começou por uma coisa de nada: estava-se a lavar a loiça do almoço, num momento havia água, a seguir não corria nem pinga. Verificações habituais, o depósito tem água, liga-desliga a bomba, a luz vermelha sempre acesa não é bom. Lá pifou a bomba (outra vez). Não fosse ser um Sábado, e a coisa começava a resolver-se logo logo... Segunda-feira, dia perdido com o canalizador; terça-feira, toca a comprar um monte de peças e a reparar a coisa. Apenas um fiozinho de água, mal dava para ligar o duche, mas enfim, funcionava outra vez, agora com um balão azul novinho em folha, e um monte de garrafões de água de reserva em casa,  pelo sim e pelo não.
Depois, o fiozinho de água foi sumindo, sumindo, e tornou o duche impraticável, não subia água "nos mínimos" para as necessidades: nova ronda de canalizador, aprendizes de canalizador, tentativas de espécie de aprendiz de canalizador e, uma semana depois, desentupidos os canos, os filtros, removida uma torneira de plástico irremediavelmente estragada, repostos alguns troços de canalização "selados" com saco de plástico (não tinha linho, chefe!), volta a água aos mínimos, encher o balão de ar são precisos dois dias (na gasolineira não tem compressor, patrão! Tem de ir a...não sei onde, que o dos pneus não tem manómetro, tenho medo de encher demais...). Entretanto faltou a água da rede, comprar água, encher o depósito. Passou mais uma semana nisto, e pifou outra vez, a electro-bomba ficou temperamental, nem com o balão vermelho emprestado e cheio de ar a água sobe, liga-desliga-liga outra vez e só sai um gorgolejo de água e ar quando lhe apetece (veja, chefe! na união devia ter um "ring", o outro pôs saco de plástico, assim a água não passa!). Tira filtro, sai terra dos canos, mais outra semana nisto, dias perdidos à espera, vem outro canalizador (a sério), liga, desliga, desatarracha, religa, desentope, agora é mesmo o resto da electro-bomba, finou-se, venha outra.

Mudei de casa antes da nova electro-bomba ser instalada, sem água não dava mesmo. Fomos para a "guéstause" asseada de um amigo de um amigo, serviço impecável com pequeno-almoço incluído, água com pressão de novo...
Novo dia, novo episódio da saga: duche matinal, a misturadora salta da parede, susto, desatino, de um buraco jorra água a ferver, do outro água fria (eu disse que tinha pressão, não disse?) casa de banho inundada instantaneamente, quarto meio inundado antes do "jovem" lá em baixo acorrer ao pedido gritado da varanda e desligar a bomba de água do prédio; encontrar a torneira de segurança, religar a electro-bomba, não fosse ser um Sábado, e a coisa começava a resolver-se logo logo... Segunda-feira, pelo menos, alguém vai resolver "o assunto", não eu. Na guest-house há mais casas de banho, por aí safamo-nos, a água tem (muita) pressão, espero que não salte mais nada da parede por estes dias. Queremos ir de férias, nem que fosse só por estas últimas semanas, precisamos de férias!

Entretanto, "lá em casa", electro-bomba nova, água com pressão, sem filtros (falta um "ring" aqui chefe, a água sai, desmontei outra vez), não há pachorra, os filtros e as outras peças que sobraram ficam na varanda. Fui. Não quero sequer pensar muito nos 3/4 da população de Luanda e arredores que passa a vida a aturar estas coisinhas do dia-a-dia, e a luz que falta, o táxi que aumenta, e o lixo, e o gerador, e o dinheiro que falta, e a avaria do carro e...

domingo, 30 de outubro de 2016

A (não) Mudança da Hora

Pronto, mudou a hora outra vez na Tuga e nos outros setenta e tal países que alinham no esquema, mais uma horita para dormir a começar no último domingo de Outubro, menos uma horinha preciosa na próxima Primavera. Era bom para poupar carvão há cem anos na Alemanha, ainda é bom para as empresas de energia que "diluem" a hora de ponta da tarde com isto de as pessoas demorarem mais tempo a ligar a luz ao final do dia; mau para tudo o resto, segundo se comenta por aí: perturba o sono, atrapalha os horários das relações internacionais, degrada a disposição para ir trabalhar, ontem já de dia, amanhã sai-se de casa ainda noite. Bem vistas as coisas, já nem usamos velas, nem gastamos assim tanto carvão com a iluminação, em termos de balanço energético gastamos cada vez mais com os transportes (que são à hora do costume e ainda não dependem da quantidade de luz solar) e são cada vez menos as actividades económicas dependentes da luz do Sol para se realizarem. Bem entendido, estou a falar de actividades da economia citadina e industrial humana, de facto dependemos do Sol para tudo e mais alguma coisa, mais do que vulgarmente nos apercebemos, não é?
Os trabalhadores rurais continuarão a começar o dia à primeira luz, às 5, às 6, às 7 ou às 8, em Janeiro uma hora por inteiro, de novo às 7, às 6,  às 5 na época de mais trabalho que é o Verão. Nas cidades os transportes é que tendem a depender mais do Sol, não imagino outra coisa senão carros eléctricos e células solares a alimentarem as baterias da próxima geração de automóveis. Imagino que uma causa recorrente para chegar atrasado daqui por uns vinte anos, seja a falta de sol para carregar as baterias do automóvel eléctrico... Talvez volte a fazer sentido entre os trópicos e pólos o ajuste de uma hora de Verão e de Inverno, para ajudar a pontualidade laboral. Entretanto, confesso que nas últimas décadas não encontrei utilidade nenhuma nos ajustes da hora legal. Ainda bem que as "minhas" maquinetas informáticas acertam as horas sozinhas, diz-se-lhes uma vez e pronto, nunca mais nos ralamos com isso. Nos anos 90 do século XX foi bem mais complicado, na Europa variava de país para país, em Portugal variou de ano para ano;  a CEE aí unificou alguma coisa, a Europa passou a sincronizar a mudança da hora... com a América.  Angola nunca mudou hora, usa o WAT que é igual ao CET (de Inverno), ou UTC +1. Confuso? Pois, a Terra (é) gira.

segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Não há milagres económicos

Hoje no Vaticano o Papa canonizou cinco beatos, a Igreja Católica tem assim mais uns santos. Em Portugal saiu o orçamento de Estado para o próximo ano, com isso ganhámos mais uns impostos. Há coisa de uns dois anos, dois Papas canonizaram outros dois Papas; pouco depois, o governo de Portugal aumentou o IVA. Para consolação, temos que continua imbatível o record do nosso Santo António de Lisboa, canonizado apenas um ano depois de morto, em 1232, ano em que D. Sancho II outorgou três forais no Alto Alentejo e não consta que tenha aumentado os impostos.

Que resulta disto? Acabaram-se os milagres em Portugal? Vai haver mais feriados religiosos? O número de santos no Livro do Vaticano é directamente proporcional ao peso dos impostos em Portugal? Uma dúvida mais ainda me assalta: os portugueses serão mártires do fisco, ou dos juros da dívida?

Enfim, alguma reflexão terá havido, tal como o Papa antes de canonizar, o governo reflecte antes de aumentar impostos... reflecte os interesses do Contabilista Mor, que isto de não haver milagres económicos só pode ser desígnio divino, do FMI ou do BCE, insondáveis por natureza.


Água mole em pedra dura, tanto dá, até que acaba a água (provérbio angolano? :-)

sexta-feira, 14 de outubro de 2016

Bob Nobel Dylan

Ontem faleceu Dario, foi laureado Bob. No mesmo dia em que se fina o Nobel mestre da farsa, da comédia, da sátira e da incongruência subversiva, entra para a galeria da Academia Sueca uma nota de reconhecimento ao tradicionalista arauto da subversão, cantador e criador de poesia popular e comprometida. Pois, isto é um bom pretexto para (re)ler ambos, deixar por momentos o surreal quotidiano de Luanda, deixar espairecer a mente por outros assuntos e outros mundos, gozar de um momento de devaneio, o humor e a poesia são coisas sérias. Faz-me lembrar que há anos que não leio nada de jeito em inglês, a "culpa" deve ser de ter ficado encantado com a tradução de Poe por Pessoa. Situação a rever... Em italiano nunca li nada, só traduzido, mas dada a afinidade, deve ser mais simples não se perder pitada. Lost in translation? Niente perso nella traduzione.
Curiosa a coincidência de terem sido Nobelizados estes contemporâneos, Fo & Dylan, estou curioso em descobrir os seus pontos de abordagem a uma mesma realidade, com meio mundo e um oceano a separá-los, quiçá próximos na força das ideias. De um lado um escritor arquitecto que fez teatro e televisão e compôs canções desconhecidas, do outro lado um compositor e cantor de sucesso incontornável, pintor pouco reconhecido e contestado poeta, quase desconhecido escritor mas que até ganhou um Pulitzer, tal como o Nobel de agora, pelo contributo para a música popular americana.

Ontem choveu em Luanda. Bem vistas as coisas, pouco na cidade, bastante à volta da cidade. A estação das chuvas está aí. Nada demais, há um par de semanas ainda nem era chuva a sério, apenas uma chuvinha "assim de se coçar..." mas anunciava a mudança da estação, a poalha fininha assentou algum do pó e fez escorregar os carros na estrada oleada. No outro dia a carga de água foi mais "à séria", notou-se logo na TV: as nuvens carregadas encobrem o satélite e o sinal começa a falhar, sabemos a dimensão da tempestade pelo tempo que ficamos sem televisão. O calor começou a apertar. Vai já estar bom para a praia. A energia está a faltar mais frequentemente. O trânsito aglomera-se nas ruas em obras, Sexta-feira tudo sai cedo, menos os incomodados que não vieram. Sem estresse...

De onde menos se espera, daí é que não sai nada. (Barão de Itararé)

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Um Bocadinho Mais a Sul (IV)

É a Economia, Idiota!
Cape Town, Long Street
Sem sentimentos de culpa, pronto, confesso! Consegui endurecer o meu coração e não sentir remorso pela última série de cervejarias, hamburgueres, batatas frita, molho e mais molho, uma sucessão agravada de pils, lager, ale (um  espectáculo a CBC pale ale), stout, weiss, e mais cascas de batata fritas, batata doce frita, e... ok, concedo, demasiados fritos, mas só à pressão contei vinte e cinco jolinhas diferentes, difícil ficar indiferente e não "dar uma" de Homer  Simpson.
Outra especialidade de Cape Town: Seals On Wheels
Bem. convenhamos, para refrescar um quilinho de mexilhões à  marinheira, e na generalidade para lubrificar as refeições mais convencionais (terá havido alguma?), a preferência foi para um vinhinho da região. Acho, sinceramente que os tintos sul-africanos estão, como direi, over-rated; sirah,  pois, sim, merlot, han han, cabernet sauvignon e tal, mas na Província  do Cabo, para mim os melhores têm sido os brancos. E não! não é nenhuma piada racial, refiro-me só aos vinhos mesmo, porque as pessoas são todas de uma simpatia que me assombra, delicia e a que não estou habituado: os capetownians de todas as cores são de outro (lado do) mundo mesmo. Só pode ser de ser o "país do arco-íris"; não sei como é que eles conseguem ser assim fixes e continuar a conduzir sistematicamente em contra-mão... e ainda por cima, não chulam o turista: para um mesmo nível ou padrão de serviços paga-se o mesmo na Long Street, no V&A Waterfront, em Hout Bay, ou em Simon`s Town. Até os souvenirs parecem ter preços tabelados. Recordo com desagrado, por exemplo, a mesma garrafa de vinho de dois euros e meio em Portugal ser oferecida por cinco, quinze ou quarenta, consoante se a beba na Guarda, na Ericeira ou num tasco a armar ao pingarelho em Lisboa ou em Albufeira. Em CT surpreenderam-me a vender no restaurante praticamente ao mesmo preço do supermercado, que é ao mesmo preço da loja do produtor: isto cá para mim é incentivar o turismo, dar segurança ao cidadão, ter política de preços, protecção da cadeia de valor num negócio, fiscalidade ajustada. Aprenda quem deve, usufrua quem puder!

Uma para "curtir", por falar em fruir;  numa cidade "ligada", uma nota bem humorada: "We have no wifi - Talk to each other - Pretend it's 1995" à entrada do VA Foodmarket, recomendável petisqueira multicultural.
Conversar uns com os outros e imaginar que estamos em 1995, pode aplicar-se perfeitamente ao disfuncional e geralmente avariado sistema de entretenimento dos 777 da TAAG. Para consolação ficam os top of the class 86 cm entre bancos da turística, por aí tá-se bem.

sábado, 10 de setembro de 2016

Um Bocadinho Mais a Sul (III)

Boa Esperança

Ventos e correntes trouxeram Bartolomeu Dias à Baía dos Mexilhões, corria o ano de 1488. Na volta para Lisboa desembarcou numa prainha, junto à ponta mais sudoeste de África, e aí deixou erecta uma daquelas colunas de calcário com escudo esculpido e cruz no topo que serviam de lastro à caravela. Terá visto alguns Khoikhoi? E avestruzes, babuinos, dassies, ou os cormorões a esvoaoçar nas falésias? Talvez,  mas não sabemos, não deixou escrito que eu saiba; eu vi isso tudo e senti o ar fresco, os cheiros da praia e das algas e vi um Oceano azul profundo, a espuma na crista das ondas, a areia branca, a montanha estranha, estratificada, o céu azul, o outro lado da grande baía para Sul que Bartolomeu de certeza viu, quando por aqui passou até era Verão.
Isto de Verão ou Inverno não quer dizer grande coisa em termos de ver as vistas, o célebre tempo instável do Cabo faz passar as quatro estações numa hora; não se pode dizer que do alto do antigo farol de Cape Point não se vêem os dois oceanos por causa da chuva ou da nuvem, basta esperar um quarto de hora, o tempo muda e logo faz sol. Bartolomeu veio de caravela, nós de Hiace, o nosso guia um "coconut" (black on the outside, white on the inside) muito bem informado, deixou-nos uma imagem colorida do que é viver neste país e, muito em particular, na cidade mais rica da região mais desenvolvida. Não foi o primeiro a perguntar-nos como achamos Cape Town comparando com Lisboa, com Luanda: isto vindo de cidadãos de uma cidade que envergonha algumas da Alemanha ou da Holanda, onde a limpeza e a sensibilidade ambiental ombreiam com as da Suíça (felizmente sem a parte da obsessão), só para citar as que conheço e que serviram de modelo ao que aqui se vê... É uma questão delicada, ainda por cima se considerarmos o carinho especial pelos portugueses "the first ones arriving" com a fama mais recente e positiva de não chatearem ninguém, metidos na sua vidinha e mais nada. Barbárie à parte, incomoda pensar se tivessem sido os tugas a instalar-se aqui no século XVI e não os holandeses, como teria evoluído esta sociedade? Haveria pinguins em Boulders Beach?
O Cabo da Boa Esperança É Mesmo Ali Atrás Deste Monte De Pedrgulhos

quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Um Bocadinho Mais a Sul (II)

A Montanha e a Mesa

Frutado, não, muito frutado; aromas de manga, ananás, maracujá, kiwi, um toque de baunilha (da pipa de carvalho francês de grão médio, tosta ligeira, em segundo ou terceiro uso). Ah, sim, cor palha clara, limpido, perfeito. Fresco, um sabor que envolve, um fim de boca ligeiramente amadeirado, com um toque de alperce que perdura agradavelmente. Liga muito bem com o chocolate branco com uma raspinha de lima e alperce, uma agradável combinação  e uma agradável  surpresa, provar vinhos e chocolates escolhidos a condizer. O chardonay descrito e os outros vinhos todos, todos bons tirando alguns que eram excelentes, proporcionaram-nos um dia bem passado, na mais antiga região vinhateira do Cabo logo atrás da Table Mountain; a Sétima Maravilha da Natureza, a cidade servida a seus pés. Vistas soberbas, mais nuvem menos nuvem, o teleférico leva-nos ao topo dos seus mil e tal metros em 5 minutos panorâmicos, cuidado com os dassies, têm um ar de hamster fofinho e fazem companhia ao almoço, mas podem morder. A montanha omnipresente, transforma o clima imprevisível da península em algo parecido com a lotaria, ontem sol,  tarde calma, amenidades de fim de estação, hoje vento frio e uma carga de água, anoitecer frio de rachar. Nada que impeça a oferta turística, o trânsito caótico da hora de ponta, as várias "mecas" comerciais, a exuberante oferta gastronómica, afinal o clima único é o que define uma flora única numa região única, até para algumas infestantes como o pinheiro e a vitis vinifera... Ah, talvez seja isso tudo que ajuda a criar pessoas únicas, para o bem ou para o mal, esta terra também nisso tem sido fértil, de Klerk, Tutu, Mandela, só para lembrar alguns deste nosso tempo.
Já tinha referido que a montanha, esta tal Tafelberg, é a sétima maravilha?
Lion's Head, uma sombrinha da Robben Island e a Cidade, vistos da Mesa...