Não sei quando volto, ou mesmo se volto; não sou muito esquisito, podem ser €€, $$ ou mesmo ££, mas sem guita reutilizável no resto do Mundo, não é fácil continuar a trabalhar em Angola. Nem mesmo para Angola, ou por Angola.
África é um espanto, as pessoas, o clima, as cores, os sítios. Os países africanos, maioritariamente desenhados a régua e esquadro pelos colonizadores do século XIX, consolidados por interesses de independentistas sustentados pelos colonizadores a seguir na fila e raramente preocupados com as identidades dos povos vizinhos das tribos dos líderes de ocasião, são uma treta. Angola não é excepção, com a devida vénia a todos os angolanos de todos os povos e de todos os partidos sem excepção que querem fazer deste conjunto de pessoas (relativamente pouco) unidas pela língua portuguesa, uma Nação, um Estado de Direito, um País de pleno direito. Oxalá consigam, verdade seja dita, as suas vozes vão-se fazendo ouvir.
Ontem os portugueses, intercalados de holandeses, franceses e alemães; depois os cubanos e os russos, mais tarde os chineses, os americanos à mistura. O povo angolano nunca se conseguiu libertar das marcas impostas pelos colonizadores, entretém-se com uns "ódios de estimação" alardeados pela propaganda de uso interno, e nunca mais arrebita com a lista de prioridades governamentais a adiar a educação para as calendas gregas. Assim não dará nada de jeito, nunca. Pode ser de propósito, nem é preciso ir à Coreia do Norte, já há muitos anos o nosso "Doutor Oliveira" determinou como estratégia a criação de elites e que o jornal seria suficiente alimento para o povo (e como todo o alimento, deveria ser em controlado, para não causar problemas à "saúde pública"). Pode ser por distracção, pode ser por qualquer outro motivo, mas o resultado será o mesmo: sonegar o acesso à educação mata uma cultura, cria uma maioria de analfabetos sem acesso a nada, que vão para onde lhes disserem, dóceis, desempregados, acéfalos, a viver de expedientes que não fazem honra à sua inteligência nem às suas origens.
Deve ser efeito das comemorações da Revolução dos Cravos que faz hoje 43 anos que fiquei mais céptico em relação a Angola, mesmo com eleições marcadas e uma expectativa de evolução "na continuidade". A ideia em si é gira, mas não sei se funciona. Provem-no, Angolanos! Em Portugal tivémos um Presidnte Professor Marcelo que apregoou essa ideia, acabou deposto em 25 de Abril de 1974 e morreu exilado no Brasil.
Hoje, quarenta e três anos depois, uma eternidade, em Portugal temos uma Geringonça Governativa e felizmente um outro Professor Marcelo Presidente a "anos luz" do anterior, uma democracia que, com todos os defeitos que possa ter, vai funcionando: até tem poder local, orçamento participativo nacional, IRS e uma justiça que geralmente funciona, polícias que ajudam a população e não vivem de gasosas. Um espanto.
Angola? Não sei quando volto, ou mesmo se volto; de momento "estou noutra", embora mantendo os contactos, as ligações, acompanhando as pequenas coisas do dia-a-dia do pequeno mundo que também foi o meu até há tão pouco tempo. Quanto a estes escritos angolanos, salvo alguma memória solta que esteja mesmo a pedir publicação, irão perder a minha atenção frequente e, naturalmente a actualidade. Portanto, fui escrevinhar para outro lado. Para os que teimam em ficar, os meus melhores votos de boa continuação.
Pergunto ao vento que passa
notícias do meu país
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
e o vento cala a desgraça
o vento nada me diz.
Mas há sempre uma candeia
dentro da própria desgraça
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
há sempre alguém que semeia
canções no vento que passa.
em tempo de servidão
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não
há sempre alguém que resiste
há sempre alguém que diz não.
Poema de Manuel Alegre, recordado sempre como o excerto que foi cantado por Adriano Correia de Oliveira.