terça-feira, 14 de junho de 2011

Outro banco

Ao fim de quatro horas no TAP para Lisboa, tenho o rabo mais dorido e achatado que ao fim de seis horas de Toyota Hilux. E ainda faltam mais três horas... Para além de virtualmente indestrutível como sabemos, então não é que o raio da pick-up é confortável e ergonómica? Creio que temos utilizado a “versão africana”, pelo menos na suspensão que parece reforçada. Lá eficaz, é: na terra, no alcatrão, e no pior pesadelo que se pode imaginar para um automóvel, nas ruas de Luanda. Não sei quanto é que gasta nem interessa, é irrelevante com o gasóleo a 40 e a gasolina a 60 (aumentou há tempos, disseram-me, era a 40, que escândalo). Ah, pois, em Euros: 42 cêntimos o litro da gasolina, 28c o gasóleo.
Devemos ter feito uns três mil quilómetros de Toyota Hilux nestas últimas semanas
(e mais uns mil num Yaris automático, mas electrodoméstico não conta), os últimos trezentos e tal dos quais, com paragens, “portagens” e afins seriam as tais seis horas, portanto convinha atestar de combustível antes da viagem. Pelo caminho há cento e tal quilómetros de floresta, os macaquitos não ajudam nada em caso de “pane seca”.
O moço abana o braço quando nos vê entrar na fila da bomba de gasolina, pois, é só de gasolina. Adiante, há ali outra bomba “não tem gasoil, só na da rotunda à entrada ou na da estrada do aeroporto”. Para nós seria à saída, mas estamos mais perto da outra. Vamos lá, mas tem a mangueira enrolada à volta da bomba e um pino cónico às riscas vermehas e brancas em frente, está claro que não está em serviço. Vamos à rotunda “à entrada” da cidade. Um abanar negativo de dedo no ar... ”Afinal onde há gasóleo?” “só se for na.... é por ali, vai assim (gesto para a direita) e depois assim (ondula o braço para a esquerda)” e lá vamos. Há duas bombas: numa, novamente a mangueira enrolada à volta da dita, noutra um cartapázio “não há gasóleo” informa-nos finalmente e desesperantemente que conduzimos um veículo exótico. Gasolina há com fartura, todo o “jipe” que se preza é a gasolina, pois o nosso logo tinha de ser a gasóleo, que grande gaita. Indagámos, há dois distribuidores de gasóleo no Uíje: um está de férias o outro está doente. “Quantos riscos marca?” “tem dois riscos, ainda fazemos uns 300km com isto” mas pode não chegar a tanto, dará até ao Caxito? É quase como nos barcos e nos aviões, o que contam são as horas não as milhas, o próximo posto de abastecimento conhecido é pelo menos a quatro horas de distância. Na falta de alternativas, arriscamos assim mesmo, disseram-nos que antes da Vista Alegre costumam vender na candonga, bidão de 30 litros, um funil, vimos isso já em vários sítios à beira da estrada, há-de dar para desenrascar. Afinal, nas duas povoações a seguir, uma a cerca de vinte e a outra aí a uns oitenta quilómetros, há postos de abastecimento com um ar novinho em folha e atestámos com gasóleo de confiança. Já não estamos exactamente num qualquer país do terceiro mundo, apesar da selva ou na savana que temos pelo caminho.
Para ajudar, só nos pararam para pedir os documentos do carro por uma vez. O agente parecia aparvalhado, olhou, nem leu, com um sorriso embasbacado, devolveu-nos a papelada - por acaso parcialmente caducada - e mandou-nos seguir... Foi obra! Para além de uma barreira do SME (paragem obrigatória para “dar entrada” ou “dar saída” na fronteira da província) passámos 10 barragens da polícia e só nos mandaram parar uma vez! Na viagem anterior parámos quatro e fomos “penteados” três vezes, faltava sempre um papel qualquer. Para a próxima temos de ser mais cuidadosos com os papeis das Hilux que alugarmos em Luanda...

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