Umas notas

Negociamos um desconto no hotel. Afinal, vamos ficar umas semanas e até nos convém pagar adiantado. Sempre nos livramos do risco de andar constantemente com uns volumosos maços de notas na algibeira.

O “petrokwanza” anda a par do “petrodólar”, sensivelmente 1:100. Aqui não há moedas e as notas pequenas de 5 e 10 kwanzas não dão para nada, são pouco mais que meramente decorativas. Eventualmente é tudo arredondado aos “50” ou “100” mais próximos. É claro, há excepções, nalguns supermercados, no pão (30 por um “cacete”) mas é raro. A nota maior é de 2000 kwanzas: dá para um almoço, pouco mais ou menos. Ou seja, para pagar duas semanas de hotel é preciso um bom maço de notas.

Negociamos o desconto no hotel “tem de ser com o patrão, ele logo à tarde está cá”. À tarde encontramo-nos com o dono no lobby, empresário simpático, de fato discreto mas com o anel e relógio de ouro a atestarem o estatuto e o sucesso nos negócios. Bom conversador: “sabem, quando trabalhava para outros, os empreiteiros queixavam-se dos angolanos (os portugueses também...)Diziam que os angolanos não queriam trabalhar, se diziam “sim, vou já fazer” não iam fazer nada, depois perguntas “já fizeste?” e respondem “sim, sim, é para já “ e não faziam nada... Agora, nesta minha posição... verifico que é verdade!” E com um sorriso afável, passamos aos negócios, sim, 10% de desconto, concordamos, vamos ao escritório, os maços de notas trocam de mãos, contagem rápida (feita pelo recepcionista que nos acompanhou), acertamos as datas da estadia.

Estou a usar umas notas novinhas de “5” e de “10” que me deram de troco no Shoprite como marcadores para os livros, fica giro e sempre lhes dou alguma utilidade...