terça-feira, 26 de julho de 2016

24 de Julho (outra vez, já?)

Acabados de chegar à Cova da Piedade a 23 de Julho, em marchas forçadas desde o Algarve, apesar de extenuados fizeram frente e venceram os miguelistas que eram em maior número. Muita desinformação fizera crer aos absolutistas chegados de Lisboa que iriam defrontar um grande exército, e na batalha que se seguiu na estrada de Corroios para Almada, no meio das vinhas e cearas da Cova da Piedade, muitos do exército absolutista se renderam ou mudaram de campo. No final do dia, o General Teles Jordão foi morto e o Castelo de Almada capitulou. (A Maria vai para Santa Maria ter a criança, é bom, é tudo moderno. Vai ser bem tratada, não te preocupes: eu estarei lá de serviço). Noite quente de verão, os homens do Marechal António de Noronha, Duque de Terceira, acamparam junto ao areal de Cacilhas, os fogos da guarnição na Outra Banda são bem visíveis de Lisboa, na claridade difusa da Lua em quarto crescente. O exército liberal recobra da batalha e preparara-se para atravessar o Tejo  e tomar Lisboa no dia seguinte.
Charles Henry Seaforth (1801-1854) - Lisboa vista de Cacilhas
O cacilheiro da Transtejo para o Cais do Sodré demora dez minutos. No cais de Alcântara, a suave brisa mal faz ranger as amarras dos iates na marina; ninguém está a prestar atenção à brisa, os reflexos das luzes da marginal, dos restaurantes e dos bares substituem a Lua Nova iluminando o Tejo. (O trabalho de parto está a ser longo, pois, é o primeiro filho... Mais logo dou notícias). A música alta, a vozearia de uma pequena multidão à volta das discotecas e restaurantes sobrepõe-se cintilante ao marulhar das ondas na calma quente do Verão.
Entre drag queens e outros bandos mais ou menos exóticos e muitos copos, jantares tardios e muitos álcoois, os tss-pû tss-pû tss-pû das discotecas do Cais do Sodré e Santos tomam conta dos ouvidos e fazem resvalar a conversa aos gritos para a risota desbragada. Um uísque atrás de outro... Do areal da enseada de Cacilhas para a Ribeira das Naus, atravessa-se o Tejo na sua parte mais estreita em frente a Lisboa; aproveitando o final da enchente, com vento favorável os botes cacilheiros e as faluas atravessam numa hora. Apoiado nas boas notícias da Armada Inglesa de Charles Napier que há coisa de três semanas tinha aniquilado o poder naval dos Miguelistas, o exército liberal atravessa o rio. Em Lisboa as defesas estão todas apontadas à Barra do Tejo para impedir os piratas de chegar à cidade, de Cacilhas nunca viria perigo, vieram os partidários de D. Pedro IV em defesa da Carta Constitucional de 1826. Em pânico o Duque do Cadaval tinha abandonado Lisboa durante a noite anterior, seguindo com o seu exército para Norte. No Cais das Colunas não há oposição, na manhã do dia 24 de Julho o Duque de Terceira desembarca sem qualquer resistência e é aclamado pelo povo. (Zé, parabéns, é um menino! Foi duro para a Maria, o "rebento" tem quatro quilos e duzentos, mas ambos estão bem).
Muitos shots e vários bares depois da Ribeira ao Cais de Alcântara, na madrugada de 25 já não há resistência para mais, vai tudo de táxi para casa. Na madrugada de 25 os exércitos liberais descansam, na madrugada o catraio mama de duas em duas horas. Se beber não conduza: não havia abstémios na tropa, portanto o carro ficou estacionado ali nas imediações da Avenida 24 de Julho.

Coisas que aconteceram em Julho: será do calor no hemisfério Norte?
  • 4 de Julho de 1776 - Declaração da Independência dos (então apenas treze) Estados Unidos da América.
  • 14 de Julho de 1789 - Tomada da Bastilha, dois dias depois de iniciada a Revolução Francesa
  • 24 de Julho de 1833 - Tomada de Lisboa pelo exército do Duque de Terceira, o ponto de viragem a favor dos liberais na guerra civil de 1832-1834 que restaurou o poder da monarquia constitucional e recolocou no trono a rainha D. Maria II (a D. Maria da Glória tão querida pelos seus conterrâneos brasileiros)
O dia 24 de Julho é feriado na República de Vanuatu (Dia da Criança). Devia ser em mais sítios!

Ah, uma nota: só me responsabilizo pelo rigor histórico das narrativas referentes aos vinte e quatros de Julho de 1956 (Lua Cheia) e de 2006 (Lua Nova). Os de 1833, para além da confusão da guerra civil, não são do meu tempo... 

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