quarta-feira, 27 de abril de 2016

Avril au Portugal

Abril chuvoso como não se via há anos, frio como não me lembro de ter sentido. "Em Abril, águas mil", diz o ditado; assim, pelo menos por esse lado está conforme, o frio é que nem por isso. Curiosamente, no meio de tanta chuva primaveril, as últimas viagens que fizémos foram quase completamente em seco, sorte com as abertas, foi o que foi. Para além dos quase 6.000 Km de Luanda para Lisboa, ainda fiz uns dois mil adicionais entre a casa e as casas dos filhos, agora, casas de mais dois netos! Visitas oportunas...
Noto que já há tempo que não andava: a) em estradas nacionais a fugir às portagens das caríssimas auto-estradas e das incómodas e caríssimas ex-SCUT; b) perdido no Algarve à procura da N125 em obras, e com sinalização mais do que irritantemente insuficiente; c) em transportes colectivos, salvo avião, claro. Foi curioso (e confortável) o reencontro com o expresso rodoviário e o comboio suburbano, depois de muito tempo sempre de carro para cá, carro para lá, em Portugal e em Angola, em Luanda não sei mesmo como  movimentar-me de outra maneira.
Por cima do equador, 18:09:50h (UTC +1:00h)  à 15º

Em miúdo lembro-me de que havia um cartaz desbotado de verdes e azuis consumidos pelo sol com uma vista de mata e do Palácio de Sintra, algures numa montra do Palácio Foz, no "Turismo" de Lisboa. Por essa época, a começar a aprender a ler, recordo-me de perguntar ao meu pai o que queria dizer o "Avril au Portugal" apanhado num folheto de promoção turística destinado obviamente a estrangeiros, no que deve ter sido a primeira vez que percebi que havia outras línguas e outros países... Provavelmente deveria estar grato por esta pequena contribuição do SNI para o despertar da minha curiosidade para o entendimento do Mundo, mas o facto é que sempre associei Abril à chuva, e nunca percebi muito bem que razão levaria alguém a querer turistear ensopado e frio pelas ruas de Lisboa, a chapinhar nas poças de uma baixa cinzenta, sem vista para a outra banda encoberta, Cais das Colunas com o mar (da palha) picado. De qualquer forma, nas minhas deambulações do tempo em que tinha tempo para tudo, sempre gostei muito de passar pelo Palácio Foz, embora, admito, a minha curiosidade infantil pela Praça dos Restauradores estivesse mais ligada ao pitoresco inclinado do vizinho elevador da Glória. A parte da cultura e dos filmes "alternativos" na Cinemateca foi mais tarde.

Mais tarde, recordo-me de ter visto outro cartaz idêntico na montra de um restaurante no Porto, com uma imagem da mata do Luso ou do Bussaco ou coisa assim, desbotado no verde e no azul consumidos pelo Sol; uns anos ainda mais tarde, reencontrei um destes cartazes, resistente  e meio desbotado a atirar para o azul como os outros, num posto de turismo, salvo erro em Freixo de Espada à Cinta. Ou teria sido em Valença? Houve uma época em que andei frequentemente do Minho para Trás-os-Montes e vice versa. Embora a memória já não esteja muito fresca, quer dos muitos locais só de passagem quer das imagens dos cartazes encontrados há muito tempo, recordo bem o impacto das excelentes imagens reproduzidas, e a cidade e o campo e o desbotado das cores, que as memórias podem perder rigor no espaço e no tempo, mas nunca desbotam completamente nem perdem o aroma. No fundo, Portugal é um bom destino turístico, é o que é.

Seia, numa aberta este Abril, quase quase quase a levar com mais uma grande carga de água.


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