sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Outras Realidades

Tenho andado a ler "O Leopardo" de Jo NesbØ. Um policial "da moda", para descontrair. Um autor norueguês da moda, da região da moda para policiais. Os do Norte são grandes criadores/consumidores do estilo, apesar de estarem estatisticamente muito longe dos países com muitos crimes. Será da falta de Sol ou do clima, mas é um facto que têm boa produção do género. Será difícil não reparar na trilogia de "suspense" de Stieg Larsson e nos filmes nela inspirados, ou nos personagens de Henning Mankell, Camilla Läckberg etc. Principalmente autores suecos e noruegueses, incluem locais e personagens da vizinhança mais que geográfica finlandesa e dinamarquesa, pois claro. Voltando ao "Leopardo", há na história um foco lateral à trama de crimes e mistérios que salta à vista: o peso dos muitos dialectos regionais e as diferentes pronúncias dos falantes das várias nacionalidades que se cruzam no enredo.
 Ora bem, dá vontade de olhar um bocadinho mais em pormenor para a região: a Noruega é considerada o país mais pacífico do mundo, um dos melhores países para se viver e está há uma data de anos no topo da escala do desenvolvimento humano da ONU (junto com o resto da Escandinávia). Próspera e pacífica Noruega, longe vai o tempo dos vikings e das tribos que se guerreavam entre si. Tribos reunidas em reinos que se desenvolveram como comerciantes e prosperaram graças ao comércio, num tempo em que os povos mais a Sul se ocupavam em "guerras santas", é curioso como na Escandinávia sobreviveram ainda assim vinte e tal línguas aparentadas e dezenas de dialectos regionais. Longe de me querer armar em especialista de línguas germânicas, não consegui deixar de pensar na semelhança do que se passa no território de Angola com as suas quatro línguas bantu principais e umas dezenas de dialectos regionais. Ou com a meia dúzia de variantes do português que se falam pelo mundo, mais uns tantos dialectos derivados (pois, não me venham lá com o acordo ortográfico, os vários "portugueses" são línguas vivas, sabe-se lá onde irão parar). Parafraseando o trocadilho escandinavo: o brasileiro é português falado em angolano...
 Atribui-se a Max Weinreich, um linguista famoso que viveu numa região semelhantemente crivada de línguas, a afirmação de que "uma língua é um dialecto com exército e marinha"; unificadas as tribos em reinos, fundidos, colonizados, separados e pacificados os reinos, só faltam mesmo uns oitocentos anitos de desenvolvimento para chegarmos ao mesmo ponto da Escandinávia. O resto já temos.

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