sábado, 24 de outubro de 2015

O Borrão

O vinho ... é como tantas outras coisas: claro que se podem comer as uvas e isso é bom, mas das uvas se faz vinho. Muita ciência e muita cultura investidas nisso, e o produto final transforma-se numa fonte de prazer e bem estar principalmente quando acompanhado (e isto é muito da natureza humana), tudo sabe melhor com os amigos. É como o milho, por exemplo: sabe bem roer uma maçaroca depois de assada lentamente na brasa, mas uma broa ligeiramente tostada com queijo e mel é outro mundo.
O Champanhe, por exemplo (nalguns aspectos como o Vinho do Porto), é ainda outra coisa: é a imaginação e a necessidade, a economia e a razão a funcionarem, para criar um produto de onde naturalmente não sairia nada que prestasse. Os "outros" vinhos também serão, em primeira análise, uma forma de enriquecer um fruto sazonal e preservá-lo para consumir ao longo de todo o ano; o champanhe também parte desta necessidade básica, mas acabou se transformando em algo muito diferente de uma "conserva" mais ou menos requintada. É como pegar numa lata de sardinhas usada e ferrugenta, reciclá-la, e manufacturar com o material resultante um saca-rolhas: de um lixo sem préstimo aparente, criar uma ferramenta preciosa.

Por outro lado, há produtos que manifestamente não servem. Aparecem, eventualmente preenchem um vazio ocasional no mercado, nunca atingem elevados níveis de qualidade nem de coisa nenhuma, e acabam por desaparecer no esquecimento. Nem para reciclar servem. Estou a referir-me ao discurso do PR de ontem: que treta de discurso! Fez o constitucionalmente óbvio, indigitar para PM o líder do partido mais votado; depois, bem mais valia se tivesse ficado calado, Calado Silva. Ainda bem que está de saída, de vez. Acho que a História irá registar a passagem de Cavaco pela Presidência como uma mancha, uma nódoa na jovem democracia portuguesa... Mancha? Talvez mesmo só um borrão. Não creio que haja grande coisa a recordar de um consulado pífio, rígido, com algumas gafes e mentiras, sem imaginação, praticamente nem para anedotas serviu. Serviu para preencher uma época de tédio, de afastamento da política por parte do povo, esperamos que tenha servido de emenda. Se alguma coisa restar desta presidência para as gerações futuras vai ser só um borrão, o Borrão Silva, a desvanecer-se na passagem inexorável do Tempo.

Depois de um resultado eleitoral animado, a acompanhar um tropicalíssimo bolo de banana bebemos um cálice de Porto. À saúde da democracia portuguesa: em querendo, tem muito para dar, bom e mau... mas tem!

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