sábado, 23 de agosto de 2014

O País das Maravilhas

Ilha flutuante numa lagoa, nos meandros do Dande
Às vezes o meu trabalho tem momentos verdadeiramente esotéricos, ou pelo menos tão surrealistas como a conversa da Alice com Humpty Dumpty: em cima de um muro, o ovo sentado de pernas cruzadas acabado de comprar por cinco pence na loja da ovelha; comenta Alice "que lindo cinto você trás (...) no mínimo, corrigiu Alice pensando melhor, uma linda gravata, deveria eu ter dito -- não, cinto, queria eu dizer -- desculpa! (...) se eu ao menos soubesse, pensou ela, o que é pescoço e o que é cintura!" Esclarece ele, agastado: "É uma gravata, criança (...) Deram-ma como presente de não-aniversário". Resisto à tentação de generalizar e considerar este País das Maravilhas como surreal: não é, apesar de estarmos do outro lado do espelho e de muitos ovos estarem equilibrados precariamente em cima dos demasiados muros que por aqui há. Pelo ponto de vista da Alice, tem pelo menos uma vantagem, muitos usam cinto e gravata. Sendo hemisfério Sul, o cenário não está  apesar de tudo de pernas para o ar, é fácil distinguir o gasganete da cinta, pelo menos visualmente. Pela conversa é mais difícil, muitas das noções do conceito de W.E.I.R.D. não se aplicam directamente aqui. É demasiado comum para ser ignorado o facto de te dizerem uma coisa e fazerem exactamente o oposto do que entendeste, sendo que a táctica do engano é reconhecidamente vantajosa para vencer os inimigos que espreitam atrás de cada árvore: convida-se o inimigo para a festa, apaparica-se repetidamente, engoda-se, e tal, engorda-se. Quando ele baixa a guarda, elimina-se. Tão trivial, tão recorrente, tão eficaz ao longo dos tempos, só falta qualquer dia a artimanha ser convertida em lei.
Felizmente há imensos dias de não-aniversário! Prendas nem tanto, mas vá lá, no fim-de-semana o sol brilha num intervalo do cacimbo e, definitivamente, não uso gravata, nomeadamente porque nesta terra precisamos de correr muito para não sair do mesmo sítio. E o lado detrás da árvore? Pois, terá forçosamente de ser o lado onde nós não estamos.

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