segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Refresco


Uma grande trovoada aqui por cima anunciada pelo levantar do vento, a marcar o final da tarde quente. Céu azul, nuvem cinzenta, depois amarela, os raios riscam as nuvens para as bandas do Oeste, a chuva cai copiosamente em pingas grossas, interminável. Um raio cai pertinho, um "tssk" de fritura seguido do estampido que abana as paredes não engana, foi mesmo aqui. A chuva cai ruidosa no telhado de metal, pingas grossas, interminável. Faltou a luz. A noite cai, menos rápida que em Luanda, (José Eduardo Agualusa dizia que "em Nova Iorque a noite desce, em Luanda a noite cai"), mas neste verão africano o lusco-fusco não dura como aqueles crepúsculos intermináveis das nossas latitudes. É noite feita e estranhamos a falta de conforto da iluminação no átrio do hotel, é preciso lanterninha para encontrar a fechadura na porta do quarto. O gerador não ligou logo, vai demorar. Pede-se um refresco na esplanada para passar o tempo, a chuva continua a cair ensurdecedora no telhado de metal; "o gelo acabou", paciência. Alguém liga a música num telemóvel, os U2 num "Beautiful day" ecoam no pátio. Resta aguardar que a luz volte e ilumine o jantar mais tarde. Ainda bem que a chuvada amenizou o ambiente, antes estava uma caloraça insuportável. Agora está bom, assentou o pó, refrescou o ar. Afinal sempre há jantar, cerveja bem fria, café. Só o gelo é que ainda. Está-se bem na esplanada agora iluminada (o gerador lá arrancou). A trovoada continua mais para Leste, só se vêm os clarões dos relâmpagos. Já lá vão seis horas, pelo menos, e ainda não parou.

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