No caminho para Sul para-se no Dondo, cruzamento de estradas para Sul e Leste. Combustível mais abaixo em
Kibala, ou Waco Cungo, chegaremos ao Bié já passada a meia-noite. Não tem
problema que a estrada está praticamente impecável.
Os relâmpagos primeiro ao longe,
depois mais perto, uma chuvada. Estamos na estação certa, não admira. As
montanhas na beira do planalto recortam-se com nitidez no horizonte à nossa
frente. Por um longo momento o céu branco de prata, ilumina a terra molhada
mais claro que dia de sol. Nem a chuva torrencial estorva a imagem em alto
contraste da fita da estrada; no escuro denso que se segue aos relâmpagos, as
linhas brancas que assinalam a berma e o meio da faixa de rodagem, pontinhadas
de reflectores que brilham com os faróis do carro, são guias seguras para o
resto da subida íngreme que antecede a planura mais a Sul, as rectas sem fim, o
relevo suave dos vales dos rios, os últimos duzentos quilómetros quase secos
até aos 1740 metros de altitude do Kuito. A chuva vai voltar daí a umas horas,
pontualmente ao pôr-do-sol, trovoada das cinco, dilúvio das sete no planalto.
Perto da hora de almoço dão-se os
últimos retoques na missão cumprida no Kuito, dá tempo para voltar a Luanda ao
final do dia, bom planeamento é o que dá. Para começar levo eu, disse ela, no fim
da viagem levas tu, na confusão concordou ele, já será perto da noite a chegada
à cidade capital, o gasóleo chega, atesta-se outra vez em Kibala, amanhã dia
dois é feriado.
É uma terra de camponeses, muitos
não terão outra espécie de viatura que um carrinho de mão para ajudar a levar
os sacos de carvão da pira para a beira da estrada, local de venda. De resto,
será caminhando que se colhe sustento no campo plano, carga à cabeça, o caminho
da aldeia pela berma da estrada plana, a barreira do capim agora verde-seco da
chuva, pela terra vermelha.
Eles vão num carro igual àquele
em que eu vim, uma popular pick-up diesel; "bebe" que se farta, mas é
fiável para este vai-vem de longas tiradas entre cidades, confortável q.b.,
resistente q.b., há sempre um buraco ou outro que teima em aparecer no meio da
estrada.
Eles caminham pela berma do lado
direito, a criança vai brincando pelo caminho; no meio de uma corrida sorri
para a mãe, saltita para o lado da estrada. Ela vinha a mais de cem, nem a dez
metros. Nem chegou a tentar travar. Só pararam na esquadra da polícia,
entregaram-se, contaram o sucedido, uns telefonemas que hoje já não vão para
Luanda. Pela criança nada mais haverá a fazer que o funeral. Logo se vê que
mais fará quando abrir o tribunal na segunda-feira. Não somos nada.
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