sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Dia de Todos Os Santos


No caminho para Sul para-se no Dondo, cruzamento de estradas para Sul e Leste. Combustível mais abaixo em Kibala, ou Waco Cungo, chegaremos ao Bié já passada a meia-noite. Não tem problema que a estrada está praticamente impecável.
Os relâmpagos primeiro ao longe, depois mais perto, uma chuvada. Estamos na estação certa, não admira. As montanhas na beira do planalto recortam-se com nitidez no horizonte à nossa frente. Por um longo momento o céu branco de prata, ilumina a terra molhada mais claro que dia de sol. Nem a chuva torrencial estorva a imagem em alto contraste da fita da estrada; no escuro denso que se segue aos relâmpagos, as linhas brancas que assinalam a berma e o meio da faixa de rodagem, pontinhadas de reflectores que brilham com os faróis do carro, são guias seguras para o resto da subida íngreme que antecede a planura mais a Sul, as rectas sem fim, o relevo suave dos vales dos rios, os últimos duzentos quilómetros quase secos até aos 1740 metros de altitude do Kuito. A chuva vai voltar daí a umas horas, pontualmente ao pôr-do-sol, trovoada das cinco, dilúvio das sete no planalto.

Perto da hora de almoço dão-se os últimos retoques na missão cumprida no Kuito, dá tempo para voltar a Luanda ao final do dia, bom planeamento é o que dá. Para começar levo eu, disse ela, no fim da viagem levas tu, na confusão concordou ele, já será perto da noite a chegada à cidade capital, o gasóleo chega, atesta-se outra vez em Kibala, amanhã dia dois é feriado.

É uma terra de camponeses, muitos não terão outra espécie de viatura que um carrinho de mão para ajudar a levar os sacos de carvão da pira para a beira da estrada, local de venda. De resto, será caminhando que se colhe sustento no campo plano, carga à cabeça, o caminho da aldeia pela berma da estrada plana, a barreira do capim agora verde-seco da chuva, pela terra vermelha.


Eles vão num carro igual àquele em que eu vim, uma popular pick-up diesel; "bebe" que se farta, mas é fiável para este vai-vem de longas tiradas entre cidades, confortável q.b., resistente q.b., há sempre um buraco ou outro que teima em aparecer no meio da estrada.

Eles caminham pela berma do lado direito, a criança vai brincando pelo caminho; no meio de uma corrida sorri para a mãe, saltita para o lado da estrada. Ela vinha a mais de cem, nem a dez metros. Nem chegou a tentar travar. Só pararam na esquadra da polícia, entregaram-se, contaram o sucedido, uns telefonemas que hoje já não vão para Luanda. Pela criança nada mais haverá a fazer que o funeral. Logo se vê que mais fará quando abrir o tribunal na segunda-feira. Não somos nada.

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