quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Nota Técnica

Algures no bar da estação de serviço algures, no balcão de serviço entre a torradeira e a "bica" destaca-se um cubo creme com ar de componente eléctrico, uns interruptores embutidos e umas luzinhas apagadas. A meio, a inscrição bem visível a preto não deixa dúvidas: é um "TRANSFORMADOR Á ETAPA DE MUDAR PARA CIMA E PARA BAIXO - SAÍDA 110 220".
A parte do "não deixa dúvidas" é obviamente apenas para iniciados nas matérias, de preferência em tradução automática ou, vá lá, em electricidade. Tenho um hábito (quase alemão…) de ler todas as indicações escritas, tabuletas, signos, placas, setinhas ou avisos de qualquer ordem, para efeitos de orientação. Certamente por defeito profissional - em tempos "obrigaram-me" a escrever manuais e continuo a ler manuais regularmente - valorizo a informação escrita em tudo o que é indicador, apontador, mapa, símbolo ou placa. Admito, em tempos teria ficado com os cabelos em pé perante estes disparates linguísticos e o sorriso amarelo de incredulidade teria dado lugar naturalmente a uma qualquer acção correctiva; actualmente reajo diferentemente, circulam tantas atoardas semelhantes que receio ter embotada a capacidade de reagir perante a banalização da anormalidade. Ou para por os cabelos em pé, se calhar é mais por aí. Ou será uma visão mais pragmática da coisa? Convenhamos, a palavra "transformador" bastaria para espevitar um vago conceito de necessidade técnica em qualquer um capaz de a ler; o restante do escrito é irrelevante para o produto final e, mesmo que correctamente traduzido, dificilmente induziria no destinatário-utilizador completamente desfasado dos detalhes de construção da peça, qualquer ganho perante a objectiva produção de torradas e galões a pedido.

Há por aqui tanta placa em chinês, tantas vezes sem tradução associada. É curioso e faz pensar, a evidência de duas línguas tão influentes mundialmente, no contexto de uma cultura que não é de uma nem de outra. Sinto-me em (imensa) minoria… Falar português é bom, na verdade, mas nunca tive tanta vontade de aprender mandarim como desde que comecei a circular por Angola.

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