
Dizem que o café do Uíje é do melhor. Os que cá tenho bebido são bons, mas as bicas andam meio desafindas... Ou então somos nós que não conseguimos fazer passar mensagens do tipo “só até meio da chávena” e “curta”, porque nos servem sempre cada “balde”...Também me disseram que o gindungo daqui é poderoso, o mais poderoso de Angola. Vamos ver, comprei um monte para trazer por 50 kwanzas. A “unidade” nos mercaditos à beira da estrada é o ”monte”, de batata, de tomate, de cana, de fruta... Para o feijão e para a ginguba é a “lata”, de tamanho variável. As massas de malageueta com sal e azeite que provei até agora, o “gindungo” que se serve nos restaurantes, era saboroso para além do esperadamente bué picante.
No Uíje há dois hoteis, muito campo, muita terra à volta das quatro ruas quase paralelas que formam o esqueleto da cidade. Cidade pequena, estamos mesmo na província, as pessoas olham para nós com ar de... provincianos? À volta do centro e de duas ruas com palmeiras imponentes, as habituais casas baixinhas de tijolos de adobe, o musseque com os pequenos comércios habituais. Há uma livraria em frente ao hotel, uma pastelaria indigna do nome, meia dúzia de “supermercados”, merciariazinhas paupérrimas. Aeroporto(?) em terra batida, estrada de terra batida em todas as direcções menos para o Caxito (Bengo) na direcção de Luanda. Curiosamente, Caxito – Uíje deve ser a única ligação entre capitais de província em Angola sem um único buraco: tem inclusivé alguns remendos e algumas bermas em reconstrução. Disseram-nos que ainda não foi inaugurada, apesar de estar pronta há dois anos “os chineses ainda não a entregaram”. Se calhar é por isso, têm de a entregar “inteira”...
O Grande Hotel é bom, serviço impecável, o Hotel Salala pior, numas coisas mais caro noutras mais barato, é estranho mas funciona. Não tem ginásio, mas também não tem elevador: recepção no primeiro andar ao lado do restaurante, pequeno-almoço no quarto andar, piscina lá atrás uns degraus mais abaixo... Os restaurantes dos hoteis são caros e pouco imaginativos, mas indicaram-nos o restaurante do “português” (que por acaso nasceu no Uíje, e quando “se deu aquilo” foi pelo Brasil, esteve em Portugal e finalmente regressou às origens) . Fica numa das ruas principais, perto do centro onde estão quase todos os edifícios governamentais restaurados de rosa escuro , bem como um baleado e esventrado, mas ainda imponente edifício ende está escrito “Banco de Angola”. Pois, o restaurante do português serve diariamente um bufete variado, sempre uma meia dúzia de pratos do dia, mestria lá dentro nos tachos. A cozinhar assim é natural que atraia boa clientela, cozido, feijão, carnes superiormente assadas, frango, peru, leitão. Caril, muamba, calulu, bom funje, arroz e mais feijão “de banha” ou de “óleo de palma”, peixe e bacalhau que é uma espécie à parte, como todos bem sabemos. Vão lá os sargentos e oficiais do quartel da cidade, os tugas todos das redondezas, os viajantes, os namorados. Pudera, come-se bem e barato. Caso único até agora, não tem sobremesas; a única amostra de doce é o açucareiro que segue as bicas no final do almoço. Já tinha referido, por acaso, que para alem dos dois hoteis, é o único restaurante da cidade? Pois é, não há mais, ainda bem que este funciona.
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