Há sempre qualquer coisa nova
numa grande carga de água. Por um lado, assenta o pó; bem, no caso de hoje
suspende-o em dois palmos de água castanha, transformando a cidade numa taça
gigante de cappuccino intragável com
espuminha e tudo. É a oportunidade perfeita para surgirem milagrosamente capas
de plástico e guarda-chuvas de onde ainda há pouco brilhavam sonhos e outros
fritos, termos de nescafé e latas de refrigerante, garrafas de água agora não
"saem", capas de plástico é que está a dar. Em minutos a
rua-rio-cascata transforma-se e irradia manchas coloridas de verde pálido
amarelo canário violeta branco azul celeste das muitas pessoas vestidas de
capas de plástico fininho, mal se vê o outro lado da rua tal a chuva cai. Não
durou os vinte minutos habituais, durou várias horas: a estação das chuvas
estava atrasada em Luanda nesta estação, acumulou tudo num Janeiro meio seco e
descarregou hoje. Num largo da rua-lago um grupo de moços joga
futebol-aquático, literalmente mergulham para apanhar a bola fluuante e
levantam-se rindo debaixo do chuveiro tropical.
Pode sempre fazer-se negócio no
trânsito a andar-parado, mais umas horas do que as muitas horas habituais para
não se ir a lado nenhum, aproveitam para fazer um trocado a lavar as cavas das
rodas e os parachoques, o carro já está meio submerso e a água para limpar e
enxaguar está mesmo ali.
Outro grupo mais à frente também
joga à bola, o chapinhar diverte, não há viaturas a circular nesta parte da
rua-riacho, estão parados na avenida-larga-rio-Kwanza em miniatura que não
escoa para lado nenhum na cidade plana e sem energia. Ah, pois, já me ia
esquecendo, desta vez foi geral, a chuva e o corte da electricidade, espero que
o gasóleo que resta no gerador chegue para a despesa. Quase à noite, num
vislumbre do Sol a por, palpita-me que amanhã vai estar um Sábado de praia
espectacular. Ou depois, fim-de-semana é para arejar.
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