quinta-feira, 10 de julho de 2014

O Canivete Suiço

Ouvi hoje a expressão "manicómio em autogestão" aplicada à (des)organização de umas empresas em que as (des)orientações dadas aos trabalhadores têm resultado inevitavelmente em desatinos dos mais diversos. Cá como lá, não se arranjam bons "condutores de homens" e não é fácil arranjar bons gestores, vide o caso do BES, nem se eclipsam instantaneamente na boa vontade do discurso oficial os desmandos dos poderosos e os desvarios dos candidatos ao poderzinho miudinho da vantagem minúscula e quantas vezes imbecil sobre o vizinho do lado. Claro que os (maus) resultados são devidos à ineficácia crónica, incapacidade de realização, incumprimentos vários, in...montes-de-coisas e a propagação dos efeitos negativos é de tal forma nefasta e a estupidez das situações tão endémica em certos sectores de actividade, que só se compara a uma praga de mosquitos na estação das chuvas ou de gafanhotos na estação seca: são muitos, dão nas vistas, mas não resolvem nada. Não sou excepção, não escapo à influência perniciosa da estupidez (nem aos mosquitos) e vejo-me de quando em vez sem perceber por que ponta pegar em situações... no mínimo, delicadas. Mesmo recorrendo a todo o meu engenho e boa vontade, tem daqueles dias em que me sinto como um cirurgião com uma operação complicadíssima para fazer, apenas possuindo para a executar a sua destreza e um canivete suíço. Pois é, o famoso Schweiser Taschenmesser tem um monte de ferramentas e de pecinhas que só se conseguem usar uma de cada vez e até dão para desenrascar situações pontuais, mas de facto não tem, metaforicamente e realmente, nenhuma peça de produtividade específica e não poderá, nem foi concebido para isso, substituir a estruturação do trabalho, o planeamento adequado, a ferramenta própria e a especialização necessária, a capacidade de cooperação e de trabalhar em equipa, indispensáveis para um desempenho de elevado nível e um resultado eficaz. Trago o meu canivete suíço sempre na mala, já me serviu para raspar o código das recargas do telemóvel e para sacar as caricas a umas garrafas de Cuca. Funções quiçá humildes mas necessárias; no entanto, recomendo vivamente não contratar um canivete em vez um profissional qualificado, se o objectivo for algo mais ambicioso que descascar fruta.

1 comentário:

  1. adorei... mas muitas vezes sinto-me ainda mais limitada do que um canivete suisso

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