sábado, 10 de novembro de 2012

Terra Mãe

Uma noite destas tivemos actividade nocturna. Coisa comum em telecomunicações, para minimizar as perdas. Tudo normal, finalizada a "acção", tempo para dois dedos de conversa descontraída com um dos moços que estiveram no centro da actividade. Conversa profissional primeiro, temos afinidades óbvias: eu fiz durante anos exactamente o mesmo trabalho que ele, salvo a distância tecnológica. É tudo tecnologia digital, pois sim, mas eu trabalhei com "máquinas a vapor" e ele é mais Mr. Sulu a acelerar para warp 5. Praticámos, generalizámos. Claro que ele tem uma noção de que os portugueses andaram por todo o lado, pois é, a Europa deve ser bem interessante, não é? Apesar dos problemas económicos e do (mau) estado social. E Cristiano Ronaldo claro que é o primeiro nome de português mundialmente famoso que lhe vem à cabeça. Como é estar em Angola, pergunta de estrangeiro para estrangeiro longo tempo expatriado, ligeiríssima hesitação, "it's allright", diz ele. De resto, temos o mesmo problema, no meu caso (e dos outros portugueses que por aqui andam desde o século XVI), a terra natal é escassa e adversa (desde o século XVI?), há que procurar sustento noutras paragens (mmm… antes do século XVI); no caso dele, é basicamente a mesma coisa que o leva a mudar de continente: muita pressão depois dos estudos para ser bom na profissão, acesso ao mercado de trabalho muito competitivo, só os muita-muita-bons ou que têm cunhas arranjam empregos de qualidade, vêm-se os "trintas" a aproximar, quer-se passar uns bons bocados e ao mesmo tempo conciliar isso e mais o trabalho com a perspectiva da responsabilidade, ser certinho e criar uma família e por aí fora. Resultado, "lá na terra" a coisa está preta, toca a desenvolver a profissão "abroad", sempre é mais compensador.
A madrugada é rápida nesta latitude. O lusco-fusco não dura nada, a suave claridade do novo dia já nos ilumina o caminho, não fazem falta os candeeiros apagados da nossa rua. Hora de dormir para nós, hora de acordar para o resto da cidade, o povo já se agita nas ruas. À guisa de despedida ele conta-me o que se costuma dizer na sua terra: se disseres mal do governo a um chinês, que o comunismo é uma trampa, ele ficará indiferente, ou provavelmente até concordará; mas se lhe disseres que a China não presta, aí, meu amigo, ele ficará mesmo muito ofendido. Somos todos iguais, não somos?

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