As cigarras estridentes que animam
as noites ao lado do meu quarto de hotel são a "face audível" da
chuva revigorante do início da estação, que vai ameaçando inundar a planície do Kunene. Pelo nível ensurdecedor
do cri-cri, devem ser bem grandes (ainda não consegui descobrir entre os vasos
de plantas na passagem entre os quartos e o pátio), como grandes são as
formigas, os escaravelhos, os louva-a-deus, os gafanhotos, as traças, as
cigarras e mais milhentos inomináveis insectos que esvoaçam por todo o lado, ao
cair da noite. Não admira que os morcegos que os perseguem em piruetas por entre árvores e candeeiros de iluminação pública também sejam grandes e gordos. Com as luzes fracas da noite a incidirem de través, o chão brilha até perder de vista das incontáveis asas das formigas que a humidade fez enxamear dos formigueiros próximos.
Claro que não dá para ficar na esplanada do restaurante à noite; atravessar do carro até ao clarão de luz da porta, é quanto basta esbarrar nuns quantos insectos esvoaçantes e para ter de sacudir os mais aderentes da camisola, do cabelo, das calças, no tapete da entrada do "tal" restaurante "onde se come muito bem". Restaurante que está num sítio indescritível, para lá da estrada mais quinhentos metros de buracos, de poças de água e lama fina, junto ao dique, no meio de um bairro em que tudo parece improvisado depois da última cheia, excepto o restaurante. Casa de exterior castiço, surpreendente sala espaçosa e confortável, cheia de Marilyns em cartazes de tamanho natural e mais fotgrafias da Marilyn, ementa constituída por rumpsteack, t-Bone, e outras bovinices importadas da vizinha Namíbia, servidas em grandes pratos quadrados sobre grandes mesas redondas. E grelhadas no ponto, em doses generosas, suculentas, saborosas, um bom bife é um bom bife em qualquer parte do mundo, honra seja feita ao mestre grelhador. Claro que não deve dar muito jeito fazer 9.000 quilómetros para cá vir almoçar um dia destes com os amigos, mas fica a referência...
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