sábado, 9 de julho de 2011

O Fuso Horário

A Casa onde estamos acantonados é na parte alta de Luanda. A rotina diária leva-me ao Escritório, no centro da cidade, na parte baixa. Estou sem Carro, o que significa que alguém me irá levar e trazer.

    “Estão aí viaturas da Firma, o J sobe às nove horas para ir buscar o sr. Robalo”
     “Posso vir com o B, mora perto... “
     “Mas eu vou descer pelas sete horas, não será demasiado cedo?”

A a alvorada costuma ser pelas seis, não há incómodo nenhum.
     “Então eu pego o senhor amanhã às sete em frente à casa”
     “pois sim, combinado, estarei lá fora à espera”

Às sete, nada.
Sete e meia, nada.
Mas eu já adquiri uma boa provisão de paz africana, estou imbuído da calma angolana:  fui para o café em frente, tem uma esplanada agradável.
Às oito, nada.
Ás oito e meia, depois do segundo pequeno-almoço tomado, passa o B, para me levar.
Depois da desculpa número três, rapidamente passamos à conversa do trânsito, da chuva e do bom tempo, para despreocupar da próxima hora de engarrafamento até chegar ao escritório.
No outro dia, o L combinou às sete e meia e estava pronto à porta a essa hora. Às oito, foi ele que abriu a porta à empregada. Às oito e meia, foi ele que abriu a porta ao M que vinha deixar uns documentos. Às nove, finalmente, lá foi... Comparámos estas e outras experiências com outros “expatriados” e os resultados foram perturbadoramente consistentes, poderia mesmo citar várias experiências idênticas.

Há qualquer coisa no Tempo aqui, uma dilatação, algo etéreo ou místico nas Horas, um tempo relativo que nos escapa mas simultanemente dilui a espera, tranquiliza, faz parte... Será da proximidade do Equador? Será algum espírito que afecta o correr do tempo das criaturas terrestres, ou um superior desígnio de Nzambi  que não poderemos entender?

Passei a ir para o escritório a pé. Da cidade alta para a cidade baixa naturalmente é a descer, em ritmo de passeio nem chega a meia hora. O tempo está agadável, escolho ruas com menos trânsito automóvel, pitorescas, com as demais pessoas afadigadas nos  seus começos de dia.
Mais tarde, no final da jornada, há sempre a frase tranquilizadora “eu subo como senhor Robalo, deixo lá em casa, saímos dentro de dez, quinze minutos...” afinal, voltar à noite  para casa e a subir, sempre é melhor à boleia.
Trinta ou quarenta e cinco minutos depois, saímos. Como é natural.

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