
Claro, se estamos num planalto e vamos na direcção da orla marítima, inevitavelmente teremos de descer. Antes, porém, ainda tivemos de subir mais qualquer coisa, a portela entre as montanhas que nos separam do litoral passa-se pelos 1900m de altitude. A seguir, 25Km de não-estrada devolvem-nos imagens de uma África cheia de aventuras sonhadas e caminhadas tropicais, na lentidão dos buracos e no ondulado de terra vermelho sangue, por entre as aldeias de palhotas feitas de tabiques e barro. De resto, a estrada N250 de Alto Hama a Lobito está excelente na Província do Huambo (100Km), na Província de Benguela tem os citados 25Km em terra e 100Km em alcatrão “entremeado” por um desvio em cada ponte semidestruida (e há uma porção de rios neste planalto!), entroncando, já no município do Lobito com a estrada de Luanda, mais estreita, sem bermas, com muito mais movimento nos últimos 20Km. Dizem que irá haver aqui uma auto-estrada para Luanda, ainda não há. O que há é uma última descida, 10% de inclinação pelo meio de um bairro infinito, até ao raso do mar. Ria, restinga, flamingos, garças, ibis, a cidade (ou melhor, o porto omnipresente com uma cidade à volta) ali estão, com as suas avenidas largas e alamedas arborizadas. O porto para navios de grande porte no meio da baía, à entrada o farol “da refinaria”, do outro lado uma convidativa zona de lazer, bares e praia “No Lobito? Estiveste na restinga... foste no Zulu?” dum lado a arriba coberta por quilómeros intermináveis de musseque, do outro a língua de areia dos restaurantes. Ainda não está construido o cais para minério, o caminho de ferro dito de Benguela ainda não está pronto para transportar as riquezas do ansioso Congo.
Logo a seguir, meia dúzia de quilómetros mais a Sul, fica a Catumbela do forte e do entreposto dos escravos, que vinham do planalto e passavam pelo Lobito para serem exportados para o resto do mundo. A Oeste o Brasil, a Sul fica Benguela e a seguir a Baia Azul. Praia de areia limpa, água morna e peixes aos saltos, a convocar dias de preguiça. Praia com bar e restaurante e árvores de sombra quase a “molhar os pés” na franja da maré alta. Nunca mais quero praias sem árvores. Areia fina, limpa, dois passos à frente e estamos de molho, dois passos atrás a suave linha de areia e a sombra da árvore logo ali ao lado com um simpático a perguntar “precisa de alguma coisa?” Algumas famílias, pela tarde, iam precisando de vinho em baldes de gelo, Cucas geladinhas, sumos para a a garotada, bitoques... Enquanto duas equipas de amigos futebolavam mais adiante, com mergulho colectivo a sublinhar cada golo. Domingo, enfim...
As dunas fósseis e os montes de arenito dão à paisagem um aspecto insólito quase fantasmagórico, as ervas baixas e secas, pré-deserto. Esta faixa litoral que inclui o deserto mesmo, mais a Sul, parece de outro país, noutra estação do ano. Aqui calor húmido e as dunas, logo ao lado, um pouco mais para o interior a mata verde e o fresco da montanha. Para além do mais, lindo.
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