Sendo a permanência longa, inevitavelmente terá de se renovar o visto “ordinário” que só dá para um mês. Para esse efeito, terá de se levar o passaporte e outra documentação à repartição própria, onde são precisas três coisas: 1- pagar umas taxas, 2 - preencher uns papéis, e 3 - levar uma pessoa que conheça toda a gente.
Desce-se a rua até ao guichet do Serviço de Migração e Estrangeiros (parecido com o SEF em Portugal, versão Angolana), atenta-se às informações precisas de agentes atenciosos e a outras afixadas em vitrine própria, recolhe-se um par de impressos para preencher (juntar 2 fotografias, uma carta, o passaporte e respectiva fotocópia) e teremos de ir primeiro ao banco pagar um par de taxas. Pois, o Ponto Um: tem de se ir a uma agência do BPC fazer o depósito de 1016,55 kwanzas numa conta e 935,00 kwanzas noutra conta; recolhidos os talões de depósito, fotocopiam-se e volta-se ao SME para entregar com os restantes impressos preenchidos, cumprindo assim o Ponto Dois. A partir daqui, a renovação do visto demorará efectivamente 2 ou 3 dias. Corem de vergonha com esta eficiência, burocratas nacionais...
Ora acontece que o BPC écomo que a CGD cá do sítio, conseguindo congregar tudo o que é mau na CGD, agravado pelo facto de os funcionários, militares, pensionistas e povo em geral desconfiarem do sistema e não terem conta bancária. Portanto, são milhões a não usarem os (ainda escassos) “Multicaixa” e a consumir um dia por mês na fila para receber o ordenado.
Felizmente, temos à mão o Ponto Três que nos leva a uma agência com pouco movimento. Ah, sim, convém explicar que uma “agência com pouco movimento” é a que tem uma fila parecida com a da bilheteira do estádio da Luz dez minutos antes de abrir, na véspera de um jogo grande... Avança então o nosso amigo, a pessoa que conhece toda a gente: “eheh... vamos ver.... esta é que eu acho que tem menos movimento...” atravessa a rua direito à porta, ignora a fila descomunal que dá várias voltas sobre si própria; troca um par de frases com o segurança (creio que continham um “falar com...” e um vago “vamos fazer...”); faz menção de usar o telemóvel duas ou três vezes. Será um misto de atitude, auto-confiança , conhecimentos locais ou dos hábitos dos locais, ou apenas uma boa dose de descaramento? Não consigo interpretar os sinais, não dá tempo para “processar”: no momento seguinte um outro segurança passa-nos um detector de metais na maleta dos documentos, o nosso amigo entra na frente, faz um gesto com a cabeça, um olhar por cima do ombro e diz “estão comigo”, e entramos atrás dele... Direitinhos ao único guiché livre (os restantes quatro, incluindo dois onde se lê “caixa” vão lentamente escoando as outras centenas de pessoas).
Dez minutos depois estamos cá fora a caminho do SME com os comprovativos dos depósitos e o troco arredondado a nosso favor, que isto é um pais rico e os centavos não contam. “viram aquela senhora que saiu? Lembrei-me agora... Era a gerente, pois... até podia ter falado com ela, em tempos namorei com a filha...”
Mas não foi preciso.
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