sábado, 8 de novembro de 2014

Jahrestag des Mauerfalls

Recordando o programa de Baptista-Bastos, onde é que você estava no 9 de Novembro de 1989?

As barreiras entre as pessoas não existem por natureza, somos nós, as pessoas, que as erguemos sabe-se lá em quantas circunstâncias. Devo ter perdido lá por casa um cisco de betão com vestígios de tinta numa das faces, que trouxe da primeira vez que estive em Berlim, em mil novecentos e noventa e qualquer coisa, ainda havia longas secções do muro e da "terra de ninguém" à espera de reconstrução. Grandes secções do muro arrancadas recentemente orlavam faixas abertas para religar as ruas, as redes de água e saneamento, as linhas de comboio, os caminhos para a reunificação alemã. Às tantas, com as mudanças de casa na Tuga e as várias obras inevitáveis, o pedacito do muro já foi varrido com os detritos da reparação das canalizações, ou junto com os restos do chão novo da cozinha; em Berlim, pelo sim e pelo não, fizeram um risco no chão no sítio onde dantes estava o Muro. Para não esquecer, para não voltar a fazer. Também guardo uma miniatura de um Trabant que trouxe de lá, para não me esquecer de um mundo que foi.
Visto agora, superficialmente, parece inconcebível que aquela cidade fervilhante de vida teve em tempos ali a meio, no sítio do risco no chão, rasgando a eito sítios onde hoje passam carros e estão casas e hotéis e bares e museus e pessoas, um muro de betão e arame farpado e minas e guardas e dispositivos de tiro automático e ruínas furadas de balas, a continuação viva da loucura da Segunda Guerra Mundial.

As barreiras, essas, somos nós que as criamos, não é?

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