Recordando o programa de
Baptista-Bastos, onde é que você estava no 9 de Novembro de 1989?
As barreiras entre as pessoas não
existem por natureza, somos nós, as pessoas, que as erguemos sabe-se lá em
quantas circunstâncias. Devo ter perdido lá por casa um cisco de betão com
vestígios de tinta numa das faces, que trouxe da primeira vez que estive em
Berlim, em mil novecentos e noventa e qualquer coisa, ainda havia longas
secções do muro e da "terra de ninguém" à espera de reconstrução.
Grandes secções do muro arrancadas recentemente orlavam faixas abertas para religar as
ruas, as redes de água e saneamento, as linhas de comboio, os caminhos para a
reunificação alemã. Às tantas, com as mudanças de casa na Tuga e as várias
obras inevitáveis, o pedacito do muro já foi varrido com os detritos da
reparação das canalizações, ou junto com os restos do chão novo da cozinha; em
Berlim, pelo sim e pelo não, fizeram um risco no chão no sítio onde dantes
estava o Muro. Para não esquecer, para não voltar a fazer. Também guardo uma
miniatura de um Trabant que trouxe de lá, para não me esquecer de um mundo que
foi.
Visto agora, superficialmente,
parece inconcebível que aquela cidade fervilhante de vida teve em tempos ali a
meio, no sítio do risco no chão, rasgando a eito sítios onde hoje passam carros
e estão casas e hotéis e bares e museus e pessoas, um muro de betão e arame
farpado e minas e guardas e dispositivos de tiro automático e ruínas furadas de
balas, a continuação viva da loucura da Segunda Guerra Mundial.
As barreiras, essas, somos nós
que as criamos, não é?
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