Pingou à noite
Dissipou-se a bruma
Chegou o Verão
Primeiro foi no Planalto
Interior, lá para as Terras Altas do Sul, já lá vai um par de semanas. Esta
noite chegou a Luanda; um vento peculiar na semana passada não enganava, o
tempo ia mesmo mudar, veio chuva. Pode trazer incómodos urbanos, a chuva, mas
trouxe certamente um sorriso diferente às pessoas. De facto já tardava, estava
tudo seco, que seca, o cacimbo cinzento-bruma foi substituído pelo cinzento-chuva
das nuvens carregadas. O calor aumentando nos últimos dias já o deixava
adivinhar, só faltava concretizar, está na hora de trocar o sapato pelo
flip-flap e inaugurar a estação da praia. E foram só umas pingas, imagina se
fosse uma chuva a sério, esta só molhou um pouco, já secou. Deixa ver, não
tarda, perde a timidez e inunda. Entretanto, há outras coisas mais difíceis de entender,
ou talvez apenas de aceitar, nem que seja por serem vistos daqui, na paz
citadina de um domingo que acordou cinzento-molhado a prenunciar um calor a
pedir praia: há muitos anos, numa cidade do Norte ali pelo paralelo 38,7 (9o
8' Oeste, para ser mais preciso...), uns tipos desataram aos tiros contra a
injustiça e a miséria, depuseram (mais) um governo déspota e uma monarquia
provinciana, e proclamaram uma República. Proclamaram também Grandes Ideais, miseravelmente
desfeitos pelo cinzento-guerra e diluídos nas misérias de um povo nos anos que se seguiram. Acredito que os ideais
nunca morrem, mas pergunto-me onde andarão eles hoje, ao certo? Não os encontro
nem nos discursos nem nos actos, perdeu-se qualquer coisa em Lisboa, diluída nos
anos de ditaduras diversas e nas misérias das guerras dos outros, e não foi com
a chuva de certeza. Pero los ideales
no se mueren, buena suerte manifestantes de Madrid con eso de la abolición de
la monarquía, estoy con vosotros en favor de la "democracia real". Sea lo que sea, lo que tenemos ahora no va a diluirse en la lluvia.
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