domingo, 5 de outubro de 2014

República!

Pingou à noite
Dissipou-se a bruma
Chegou o Verão


Primeiro foi no Planalto Interior, lá para as Terras Altas do Sul, já lá vai um par de semanas. Esta noite chegou a Luanda; um vento peculiar na semana passada não enganava, o tempo ia mesmo mudar, veio chuva. Pode trazer incómodos urbanos, a chuva, mas trouxe certamente um sorriso diferente às pessoas. De facto já tardava, estava tudo seco, que seca, o cacimbo cinzento-bruma foi substituído pelo cinzento-chuva das nuvens carregadas. O calor aumentando nos últimos dias já o deixava adivinhar, só faltava concretizar, está na hora de trocar o sapato pelo flip-flap e inaugurar a estação da praia. E foram só umas pingas, imagina se fosse uma chuva a sério, esta só molhou um pouco, já secou. Deixa ver, não tarda, perde a timidez e inunda. Entretanto, há outras coisas mais difíceis de entender, ou talvez apenas de aceitar, nem que seja por serem vistos daqui, na paz citadina de um domingo que acordou cinzento-molhado a prenunciar um calor a pedir praia: há muitos anos, numa cidade do Norte ali pelo paralelo 38,7 (9o 8' Oeste, para ser mais preciso...), uns tipos desataram aos tiros contra a injustiça e a miséria, depuseram (mais) um governo déspota e uma monarquia provinciana, e proclamaram uma República. Proclamaram também Grandes Ideais, miseravelmente desfeitos pelo cinzento-guerra e diluídos nas misérias de um povo nos anos que se seguiram. Acredito que os ideais nunca morrem, mas pergunto-me onde andarão eles hoje, ao certo? Não os encontro nem nos discursos nem nos actos, perdeu-se qualquer coisa em Lisboa, diluída nos anos de ditaduras diversas e nas misérias das guerras dos outros, e não foi com a chuva de certeza. Pero los ideales no se mueren, buena suerte manifestantes de Madrid con eso de la abolición de la monarquía, estoy con vosotros en favor de la "democracia real". Sea lo que sea, lo que tenemos ahora no va a diluirse en la lluvia.

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