domingo, 6 de julho de 2014

Petróleo

Numa curva do rio ainda há um pedaço de cano antigo, de vez em quando por lá brota um vestígio de petróleo bruto. São os restos de um furo com seiscentos e tal metros de profundidade feito em 1915, ao abrigo de uma concessão de 1910 para prospectar e explorar petróleo no Norte de Angola. A concessão foi dada a uma tal Canha & Formigal, empresa comercial que terá sido formalmente extinta por volta de 2012. No entanto, no princípio do século XX estava vivinha e de saúde, concorrendo à construção e exploração do Mercado do Bolhão; em 1907 era concessionária das linhas de caminho de ferro do Alto Minho, de Braga a Guimarães, de Braga a Monção, de Viana do Castelo a Ponte da Barca e dos Arcos a Monção, mais ou menos misturadas nos quinze anos seguintes com a de Trofa-a-Fafe-e-Fafe-a-Trofa, algumas dessas linhas nunca construídas. Em 1915, com a Primeira Guerra Mundial em plena mortandade e impasse na fronteira franco-belga, com uma quase guerra civil em Portugal no ano dos episódios mais sangrentos da Primeira República, deve ter parecido perfeitamente acertado a essa empresa ir explorar petróleo em Angola, ali para as margens do Dande.  Entretanto, o General Pereira d'Eça ia batalhando os alemães da Damaralândia, 1.200 quilómetros mais a  Sul, na região do Humbe. Consta que nessa época, comercialmente falando, não deu hidrocarboneto para mais do que para sujar as mãos do Soba e motivo para imprimir umas notícias nos jornais; efectivamente, o negócio do "crude" angolano só prosperou bastantes anos mais tarde e com outras empresas, mais para Sul e mais para Norte de Luanda.
Agora sem exploradores de petróleo à vista, os últimos meandros do Dande antes da foz espreguiçam-se orlados de verde, entre lagoas e férteis fazendas no leito de cheia, terras das aldeias Katanga e outras de que não me lembro...
Vale fértil, águas férteis em cacusso e bagre, visitadas por pescadores em pirogas ancestrais, esporádicos hipopótamos e a alguns discretos crocodilos. Os promontórios que delimitam o vale, do alto dos seus sessenta metros de altitude, são visitados por esporádicos turistas e escassos agricultores, e têm esplêndidas vistas para as lagoas e para o serpentear do rio. Francamente, recomenda-se a visita, e já agora, para variar da oferta mais popular (mas consistente) da Barra do Dande, pode-se desfrutar de  um almocinho no "resort" Turitanga, com vista para o rio e para uma lagoa com uma curiosa ilha flutuante, quase perfeitamente circular. Recomenda-se pela pacatez e tranquilidade do sítio, tão longe da loucura luandense e afinal logo ali ao lado.

                                                                                                                                                         

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