Na semana passada anunciaram "o
fim da venda desordenada" nas ruas de Luanda. Agora, só nos locais
de mercado governamentalmente instituidos. Então, pergunta o povo, na rua, na rádio, o que se faz
quando o local do mercado fica cheio, sem espaço para tantos, sem margem para
receita compensadora? O coração da cidade não deixará de pulsar: sairá do
mercado, voltará a deambular no circuito informal, na busca diária do cliente onde
ele estiver, não no mercado onde o comerciante não cabe (e onde o cliente não vai).
Na semana passada também anunciaram
que acabou o suporte técnico ao Windows 95. Agora, o que fazer quando o Windows 95
parar de funcionar? Pois, como sempre se fez, deliga-se a aplicação,
eventualmente desliga-se o computador e volta-se a ligar: sair-e-voltar-a-entrar
funciona com o W95 há doze anos, e com tantos outros programas mais antigos (e
mais recentes…) até ao nível do ridículo e da anedota.
A economia portuguesa está de
rastos há um bom par de anos. Na semana passada discutiu-se a saída
"limpa" do programa de "ajuda", discutiu-se o défice, se
deveria ser de uns dois e tal pontos percentuais ou de quatro e coisa, conversa
oca de políticos de ocasião que aproveitam para confirmar mais um imposto. Uma constatação recorrente associada a dois
acontecimentos anteriores aparentemente não relacionados? Mas... pensando um bocadinho: Sair
do quê? O défice continua a existir! Então que fazer quando um país não funciona?
Ocorre-me uma solução: sair do país e voltar a entrar, de preferência vários anos ou um
par de gerações depois.
Duvido que as
zungueiras deixem de fazer girar a economia, deixem de ser o coração da cidade, tal como
duvido que a economia portuguesa se levante com os que lá estão agora (todos os
que têm assento parlamentar e seus periféricos, cebola mole ou cherne retornado, não haja confusão nisto!). Da mesma forma, admito que o fabricante do programa tenha outras razões, para alem de pretender vender versões mais recentes. No entanto, em qualquer dos casos, noto o mesmo desenvolvimento de situações que são pretensos
encerramento de ciclos, deliberada terminação de um modo de estar, ser ou fazer,
por acção de um grupo de indivíduos, classe, associação ou empresa, com vista à
regulação de actividades que escapam, mas que potencialmente podem ser
recuperadas para os interesses dessa empresa, classe ou grupo de indivíduos.
Um grupo de pessoas, nomeadamente
governantes, outorgou-se o direito de gastar em excesso dos dinheiros públicos,
levando a que outra classe ou grupo de pessoas, os credores, iniciassem uma
estratégia de recuperação dos valores investidos, tudo redundando no
depauperamento acelerado do país e do povo português; após 12 anos de popularidade
recheada de reacções desde o amor ao ódio mais abjecto, mas nunca de indiferença,
o interesse de uma corporação obrigará a prazo à substituição de um sistema
economico por outro mais dispendioso; por interesse de alguns, tenta alterar-se
a actividade económica informal, paralela e não documentada que é o coração da
economia informal, paralela e não documentada de Luanda, de Angola e de
qualquer outro país de África.
Apesar do calor, da trovoada e da
chuvada do momento, a minha intuição diz-me que estas três situações poderão
não ter um impacto muito duradouro na vida das pessoas, embora, quem sabe, possam ter solução semelhante...
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