domingo, 13 de abril de 2014

Sair, e...

Na semana passada anunciaram "o fim da venda desordenada" nas ruas de Luanda. Agora, só nos locais de mercado governamentalmente instituidos. Então, pergunta o povo, na rua, na rádio, o que se faz quando o local do mercado fica cheio, sem espaço para tantos, sem margem para receita compensadora? O coração da cidade não deixará de pulsar: sairá do mercado, voltará a deambular no circuito informal, na busca diária do cliente onde ele estiver, não no mercado onde o comerciante não cabe (e onde o cliente não vai).
Na semana passada também anunciaram que acabou o suporte técnico ao Windows 95. Agora, o que fazer quando o Windows 95 parar de funcionar? Pois, como sempre se fez, deliga-se a aplicação, eventualmente desliga-se o computador e volta-se a ligar: sair-e-voltar-a-entrar funciona com o W95 há doze anos, e com tantos outros programas mais antigos (e mais recentes…) até ao nível do ridículo e da anedota.
A economia portuguesa está de rastos há um bom par de anos. Na semana passada discutiu-se a saída "limpa" do programa de "ajuda", discutiu-se o défice, se deveria ser de uns dois e tal pontos percentuais ou de quatro e coisa, conversa oca de políticos de ocasião que aproveitam para confirmar mais um imposto. Uma constatação recorrente associada a dois acontecimentos anteriores aparentemente não relacionados? Mas... pensando um bocadinho: Sair do quê? O défice continua a existir! Então que fazer quando um país não funciona? Ocorre-me uma solução: sair do país e voltar a entrar, de preferência vários anos ou um par de gerações depois. 


Duvido que as zungueiras deixem de fazer girar a economia, deixem de ser o coração da cidade, tal como duvido que a economia portuguesa se levante com os que lá estão agora (todos os que têm assento parlamentar e seus periféricos, cebola mole ou cherne retornado, não haja confusão nisto!). Da mesma forma, admito que o fabricante do programa tenha outras razões, para alem de pretender vender versões mais recentes. No entanto, em qualquer dos casos, noto o mesmo desenvolvimento de situações que são pretensos encerramento de ciclos, deliberada terminação de um modo de estar, ser ou fazer, por acção de um grupo de indivíduos, classe, associação ou empresa, com vista à regulação de actividades que escapam, mas que potencialmente podem ser recuperadas para os interesses dessa empresa, classe ou grupo de indivíduos.

Um grupo de pessoas, nomeadamente governantes, outorgou-se o direito de gastar em excesso dos dinheiros públicos, levando a que outra classe ou grupo de pessoas, os credores, iniciassem uma estratégia de recuperação dos valores investidos, tudo redundando no depauperamento acelerado do país e do povo português; após 12 anos de popularidade recheada de reacções desde o amor ao ódio mais abjecto, mas nunca de indiferença, o interesse de uma corporação obrigará a prazo à substituição de um sistema economico por outro mais dispendioso; por interesse de alguns, tenta alterar-se a actividade económica informal, paralela e não documentada que é o coração da economia informal, paralela e não documentada de Luanda, de Angola e de qualquer outro país de África.
Apesar do calor, da trovoada e da chuvada do momento, a minha intuição diz-me que estas três situações poderão não ter um impacto muito duradouro na vida das pessoas, embora, quem sabe, possam ter solução semelhante... 


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