sábado, 27 de agosto de 2011

Huíla Café

“Então amanhã às nove no Huila Café?... Combinado... Boa continuação...”

Ao virar a esquina no princípio da rua, o “som de discoteca” sobrepõe-se ao ruido do pouco trânsito do sábado de manhã.  Percorro o quarteirão na direcção da música, os três ou quatro miuditos que costumam pairar à porta do café a pedir dez kwanzas a qualquer pretexto nem ligam aos passantes, entretidos com o espectáculo gratuito no passeio. A fonte de kizomba/mix/rap em altos berros e baixos atroadores é um SUV Mitsubishi prateado com jantes especiais e farois fumados, de portas abertas para se ouvir bem cá fora, parado mesmo à porta do café. Está rodeado por uns sete ou oito “já um pouco mais que adolescentes” em que a única relação aparente reside nas garrafas de bebida que todos consomem. Uma moça do decote farto, mini-saia e botas de salto agulha, vai abanando os buracos das meias de renda ao rítmo da música e da algazarra de dois dos moços adjacentes, indícios de uma noite de farra que ainda não terminou.
O galão e a torrada saltitam na mesa do café vibrante com os baixos fortíssimos de um novo remix, perante a aparente indiferença dos restantes clientes e passantes.

Lá fora, em frente à montra ampla e despida do café,  outra moça rechonchuda que entretanto apareceu de leggings e camisola pretos, dá show de umbigada semba/mix/kuduro com o moço do polo violeta (que não larga a cerveja). Dentro do café, dois mais gordos (mais velhos?) vão gritando a despesa respectiva e contando as caricas na mesa ao lado para acertar as contas com a empregada da t-shirt “I ª Huila”. Sem largar o copo da cerveja (ele é o único que usa copo), um fininho de chapéu quadriculado digno de personagem de banda desenhada, passeia os óculos escuros sorridentes entre a caixa e a companhia improvável do obeso encostado ao carro com as palas dos ténis repuxadas por fora das calças.  Entretanto, lá dentro o matulão da tatuagem no pescoço esguicha maionese sintética ao ritmo da música para a empada trémula na mão cheia de bebida, o castiço de “rasta“ encaminha uma porção de “red-bull-dá-te-asas” para os de fora, e a das botas de salto agulha decidiu desfazer-se do resto das meias para dançar mais à vontade. A rechonchuda entra ainda bamboleando-se no café, ao balcão compra um saco de bolos e sai para os distribuir pelos miudos pedintes: um mil-folhas para um,  um queque para outro, uma bola de berlim,  outro bolo qualquer, e os miudos ficam por ali à volta do grupo a comer os bolos, seguros delicadamente nos guardanapos e saquinhos de papel do serviço com as mãos sujas da vagabundagem e os olhos brilhantes dos dia de festa.
Chegou quem eu aguardava, pago o pequeno-almoço e saio enquanto o grupo ensaia mais uma rodada de cerveja com a música seguinte. São as festas da Nossa Senhora do Monte neste fim-de-semana, também haverá procissão, feira de gado e corridas de automóveis no Lubango.

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