
A caminha no hotel tem uma mantinha e uma coberta espessa. E fazem falta. À noite refresca no planalto, na rua dá jeito o casaquinho e tudo. “Olha que vir para África para passar frio, mais valia não ter saído da minha terra” diz-se em tom de graça; mas é de facto uma surpresa agradável estar à mesma altitude que nas Penhas da Saude e haver ananases, pimentos, anonas, abacates e bananas pelos quintais, andar de manguinha curta e sentir o calor forte do Sol da tarde. O planalto de Huambo é um planalto de camponeses, Huambo é uma cidade rural rodeada de uma miríade de aldeias onde se cultiva de tudo um pouco. Há realtivamente pouco emprego na cidade e muito trabalho no campo para fazer.
As imagens do dia-a-dia passam pela enxada transportada à cabeça, (a “três quartos”) pela venda dos produtos da terra, pelo carro de bois, mais as cabras e as galinhas, um porquito ou outro, molho de lenha ou saco de carvão para a cozinha, cana de açúcar para ir roendo nas caminhadas intermináveis pelos campos infinitos. Não há metáforas para descrever as montanhas, sempre no horizonte, sem nunca limitar o horizonte, vales intermináveis. Montes arredondados, cónicos, ondulando em camadas sucessivas de verde e pedra. É belo, o planalto nesta estação.
Ah, claro, e há os inevitáveis pinos cónicos vermelhos no meio da estrada a assinalar o mercadinho e o respectivo polícia... Mas isso é outra estória. Nesta, fomos meter gasolina, em Caala, paragem do caminho de ferro e entroncamento de estradas a pouco mais de 10Km do Huambo. Um enxame de motociclos, um bando de moços com jerrycans de 5 a 20 litros para os geradores, alguns “taxis” (as omnipresentes Toyotas Hiace azuis e brancas), alguns carros. Todos ao molho na bomba de gasolina. Meia hora de “fila” caótica depois, recomendáram-nos outra bomba mais à frente... Onde nos aguardava novo enxame de motociclos, novo monte de jerrycans, nenhuns carros. Só que aí tivemos direito a tratamento “vip”, pois enquanto enchiam (lentamente) um bidão de 250 litros rodeado por três moços expectantes, disseram-nos para manobrar de marcha a trás até quase roçar a bomba de gasolina. Cheio o bidão e apenas um jerrycan e duas motos depois, atestaram o nosso veículo. Entretanto, os três moços deitaram o bidão de 250 litros ao chão com algum aparato, e entre saltos e risos levaram-no a rebolar na direcção do centro da vila.
Sem comentários:
Enviar um comentário