terça-feira, 24 de maio de 2011

Mato mesmo

Em Luanda agora está abafado, húmido, encoberto, acabou a época das chuvas pontualmente nos primeiros dias de Maio, agora é o cacimbo. Em Uíje, mais para o interior, não tem bem esse tempo; é parecido com Luanda, mas aqui chove quando lhe apetece. Em Luanda tambem há muitas mangas nos quintais das vivendas, deve ter sido uma moda que pegou... No caminho de Luanda ao Uíje há também 100Km de floresta, uma selva densa, exuberante, impenetrável. E quase outros tantos quilómetros de selva urbana à volta de Luanda, tema para outro dia.
Fora de Luanda, “nas províncias”, os montes estão cobertos de árvores que desconhecemos e vêm-se campos cultivados aqui e ali.
Nalgumas zonas, há grandes “fazendas”, cultivo intensivo de vária espéce. Deve ser pelos sítios por onde andamos, não vimos ainda café... Felizmente, em quase todo o lado há Café Delta, bom trabalho da família Nabeiro. Não será por falta da bica depois do almoço que se passará mal em Angola. Mas vimos outras coisas: a mandioca, que tem uma planta gira, verde com os cocurutos roxinhos antes de amadurecer; e vimos a planta do quiabo, com uma folhagem de ar delicado e os frutinhos quase invisíveis. E tambem vimos cajueiros, folha larga, arredondada, não tem fruto nesta época e fica com algumas folhas alaranjadas (tenho de provar o sumo dele, lá mais pró Verão). E vêm-se bananeiras por todo o lado, isoladas, em pomares (em “florestas”?); e vemos mamões pendrados de umas arvorezitas espigadas com ar frágil; e vêem-se abacatinhos em enormes abacateiros, com as folhas largas daquele verde verde mesmo verde. Mas mais impressionantres para um afro-estreante como eu, são as mukuas de meio metro penduradas nos enormes imbondeiros, com um ar de enfeites estranhamente oblongos pendendo periclitantes numa árvore de natal tresloucada, verde escuras, felpudas... Faz-se um sumo daquilo, do qual ouvi dizer: a) que não sabe a nada, b) que já há enlatado... Mais uma coisa para ver, já que os imbondeiros, entre o grande e o enorme, com o tronco cónico e ramos muito peculiares, destacam-se bem na paisagem. A caminho do Uíje há uma floresta deles, curiosíssima, esguios, assimétricos, imponentes.
Por vezes, a savana parece cultivada em grande extensão, plantas iguaizinhas a intervalos regulares, no meio do capim. O que serão? Parecem campos cultivados e depois talvez abandonados, outras vezes parecem mesmo espécies cultivadas extensivamente... Realmente, não percebemos nada “de horta”, portanto, decidimos encontrar um indígena disponível para perguntar o que há por ali. Perto de uma aldeia encontrámos e perguntámos. Depois de algumas hesitações para se estabelecer o “protocolo” (que isto de perguntar coisas em português de Lisboa a um habitante do Planalto Central por vezes não funciona à primeira nem à segunda...) lá nos entendemos. Ficámos completamente esclarecidos: “ah, agricultura... ali não... aquilo é mato mesmo!”

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